Cinco diferenças entre a pílula do dia seguinte e uma pílula abortiva que tem de saber

Informação incorreta e confusão entre os dois medicamentos no âmbito da saúde reprodutiva da mulher levam muitas portuguesas a pensar que a pílula do dia seguinte é abortiva e não uma segunda oportunidade para evitar uma gravidez.

Apesar do livre acesso à contraceção oral de emergência (pílula do dia seguinte), ainda existem mitos erróneos relacionados com a pílula do dia seguinte que fazem com que muitas portuguesas hesitem em recorrer à pílula do dia seguinte para evitar uma gravidez não planeada. Frequentemente, pensa-se que a pílula do dia seguinte é abortiva.

1. Quando deve ser utilizada uma ou outra?

Para Teresa Bombas, médica especialista em ginecologia e obstetrícia e Presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção (SPDC) “a pílula do dia seguinte deve ser tomada sempre que tenha ocorrido uma relação sexual sem proteção ou perante uma falha na utilização do método contracetivo regular e a mulher não deseje ficar grávida nesse momento, devendo a sua utilização ser encarada como um ato de responsabilidade”.

De facto, os profissionais de saúde recomendam a utilização da pílula do dia seguinte para evitar uma gravidez não planeada sempre que existam relações sexuais sem proteção ou falha do método contracetivo regular, pois em qualquer dos casos, a mulher pode estar em risco de uma gravidez não planeada.

Em contraste com a pílula do dia seguinte, Teresa Bombas esclarece que a chamada “pílula abortiva é utilizada na interrupção voluntária da gravidez (IVG) e é um método medicamentoso que, juntamente com o aborto cirúrgico, levam ao aborto de uma gravidez já em curso. É utilizada quando a mulher, devidamente informada, solicita a interrupção de uma gravidez e não existem contraindicações médicas ou legais para a realização do procedimento”.

Ou seja, a pílula do dia seguinte deve ser utilizada sempre que exista uma falha ou não utilização de método contracetivo como forma de evitar uma possível gravidez não desejada, ao passo que a pílula abortiva é utilizada quando já existe uma gravidez comprovada e a mulher deseja interrompê-la.

2. Quais as opções disponíveis para ambas as situações e quais os mecanismos de ação das duas pílulas (emergência e abortiva)?

Em Portugal, existem dois tipos de pílulas do dia seguinte disponíveis para as mulheres que necessitem de contraceção de emergência: acetato de ulipristal (ellaOne®) e levonorgestrel (Norlevo®, Postinor® e genéricos). Ambas as pílulas do dia seguinte são de toma única oral e atuam através da inibição/atraso da ovulação, tentando impedir que óvulo e espermatozoides se encontrem no aparelho reprodutor feminino e, desta forma, haja fecundação. Teresa Bombas refere ainda que as pílulas do dia seguinte “não interrompem uma gravidez em curso.”

Em Portugal, na interrupção medicamentosa da gravidez utilizam-se dois medicamentos em associação. Se, por um lado, o Mifepristone (toma única oral) atua no bloqueio dos recetores de progesterona (a ação desta hormona é determinante para a evolução da gravidez) e sensibiliza as fibras do útero para a atuação do Misoprostol. Este segundo fármaco, administrado geralmente por via vaginal 24 horas após a toma do primeiro, provoca contrações uterinas, facilitando a expulsão do saco embrionário.

3. Qual o acesso e dispensa de ambas as pílulas?

A pílula do dia seguinte é de dispensa livre em farmácias, sem necessidade de receita médica, porque “se entende que o seu acesso deve ser rápido e simples” indica Teresa Bombas. A pílula do dia seguinte deve ser tomada o mais rápido possível após uma relação sexual não protegida ou falha do método contracetivo.

No caso da medicação abortiva, “esta opção é de utilização exclusiva em meio hospitalar, só podendo ser administrada em estabelecimentos de saúde públicos ou privados autorizados pelo Ministério da Saúde para a realização de interrupções de gravidez”.

4. Efeitos secundários de ambas as pílulas

A pílula do dia seguinte pode eventualmente provocar efeitos secundários ligeiros e transitórios, tais como dor de cabeça, náuseas (vómitos) ou dor abdominal que, regra geral, não necessitam de nenhum tratamento, passando após algumas horas. A pílula do dia seguinte não afeta a fertilidade futura. Aliás, o retorno à fertilidade pode ser imediato pelo que a mulher, após a toma da pílula do dia seguinte deve utilizar um método de barreira para todas as relações sexuais posteriores até ao próximo período menstrual, para além de iniciar ou retomar a contraceção regular.

Ao contrário, a medicação utilizada na interrupção de gravidez provoca sintomas relacionados com o próprio processo de interrupção.

5. Eficácia

As pílulas do dia seguinte não são todas iguais nem eficazes a 100% não devendo ser utilizadas como substitutas da contraceção regular, mas sim como uma segunda oportunidade para evitar uma gravidez quando algo corre mal com a contraceção regular.

Fonte: Expresso

 

 

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